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A PRIMEIRA CIRANDA VIRTUAL

11 de setembro de 2020

Equipe da Síntese

Desde 1999, a Síntese – Centro de Estudos da Aprendizagem vem desenvolvendo esta ação, a qual chamamos de Ciranda de Educadores e que tem como finalidade trazer temas do momento para, entre profissionais envolvidos com a Educação, fazer uma aproximação crítica, um desvelar de distintas posições, diferentes vivências, assim como, conhecer possibilidades de avanço.

Na Ciranda de Educadores de 02/09/2020, não foi diferente. Escolhemos discutir a escola:

Cadê a escola que estava aqui?

O tema foi escolhido pensando-se na mudança de formas de ensinar e aprender provocada pelo distanciamento físico causado pela presença do COVID-19 entre nós.

Assim, a Equipe da Síntese começou a se mobilizar e decidiu, que desta vez teríamos, como em algumas outras vezes, um disparador do tema realizado pelas cinco integrantes. Pensou-se na História; nas famílias que enfrentam dificuldades neste momento; em pais e mães que foram convidados a responder três perguntas a respeito da escola, hoje; nos professores e alunos que vivem uma revolução em suas vidas, no processo de ensinar e aprender; e no papel da natureza para a escola que foi e a escola que será.

E como fizemos isto? Elegemos palavras geradoras de reflexão sobre aprender, como uma chuva de ideias surgida num primeiro momento de organização, que refletisse o que a escola e as famílias estão vivendo hoje: vínculos, tarefa, ambiente virtual/digital/on-line; conteúdo, rotina, vida real, dissimular, copiar, imitar, observar, intimidade, público, privado, vírus, autonomia, saúde, pandemia, pós-pandemia, controle, medos, incertezas, linguagens, escolhas, decisão, indecisão, saudades.

Sínteses que abriram um campo de escolha enorme e que, a partir dos estudos de cada uma das integrantes da equipe, foi sendo aprofundado e novamente sintetizado para ser trazido à Ciranda de Educadores.

A HISTÓRIA (por Laura Monte Serrat Barbosa)

Cadê a escola que estava aqui? 
Sinto lhe dizer que nem sempre  
a escola esteve aqui… 
Educar era tarefa dos pais; posteriormente, 
com ajuda do pedagogo,
da nutriz e muito mais! 
Juntaram-se à sensibilidade do citarista; 
à agilidade do pedótriba; 
ao saber do gramático;
às leis da cidade – cidadania; 
à academia e ao liceu – democracia; 
às perguntas da maiêutica; 
à reflexão peripatética…  
Do ativo ao apático;
do exercitador da mente ao fazedor; 
do filósofo ao matemático; 
do aluno ao professor… 
Assim, foi se fazendo a escola! 
Cadê a escola que estava aqui? 
A escola da Prússia militar? 
A escola confessional da França? 
A escola da Arte, da estética? 
A escola dos escribas, a esperança? 
A escola das idades, das categorias? 
A escola da ética, da democracia? 
Cadê a escola que estava aqui?  
A escola instrucionista? 
A escola do experimento, da experiência?
A escola construtivista, da vivência?
A escola do conhecimento, da paciência?
A escola que não é prédio,
mas princípio, pesquisa e ciência; 
história, espaço, memória;
convergência e divergência? 
Cadê a escola brasileira de 1932? 
A escola de Noemy, Meirelles e Armanda Alberto; 
A escola daquela época e de depois;
a escola, dos pescadores, a céu aberto; 
a escola da literatura, dos encontros e das matemáticas; 
da teoria e das práticas; dos projetos autênticos; 
das comissões de alunos. A escola democrática? 
A escola para todos, para aquele que vier;
a escola concebida, gerida e que valoriza a mulher?  
A escola de Mariana Coelho,  
portuguesa/curitibana, jornalista, 
professora, escritora e feminista, 
que pretendeu uma educação mais humana 
igualitária, de fortalecimento  
das relações e do conhecimento? 
Cadê a escola que estava aqui?  
A escola da construção do saber,  
dos canais comunicativos; 
a escola da proficiência, 
a escola que dá voz e vez; 
a escola da coexistência! 
Cadê a escola que estava aqui? 

ENTRE (VISTAS) COM PAIS (por Virginia Alice C. R. F. de Oliveira)

Vamos entendendo cada vez mais que os processos da vida não se dão em uma linearidade. Que fazemos parte de uma grande rede, viva  e dinâmica. Fazemos parte de uma grande árvore, que precisa das raízes fincadas firmes no solo, de um tronco que permita o diálogo entre as raízes e a copa, uma  copa que se movimenta, expande seus galhos, diversifica suas direções buscando a harmonia e equilíbrio para que ela cresça saudável. São três partes que, em espaços diferentes e momentos diferentes oportunizam o seu crescimento. Fiquemos  atentos! Fazemos parte desta grande árvore cujo tronco se estende tanto para baixo no solo, como para cima na copa. Num  movimento  de vida que abre e fecha. Que foca e amplia, que pulsa. Todos erramos e acertamos, todos temos algo para contribuir.

Sou psicóloga e trabalho com aprendizagem, a aprendizagem na escola e, especialmente agora, a aprendizagem da vida, por isso, nesse momento, escolhi ir buscar o olhar dos pais sobre como estão vivenciando esse momento.

Fui até os pais enviando-lhes três perguntas:

primeira: Cadê a escola que estava aqui?

Segunda: Como vocês estão vivenciando este momento?

Terceira: Que aspectos acreditam ser importantes, levar em conta, para o futuro da escola?

Enviei estas perguntas para 25 pais e recebi 15 respostas.

Como as perguntas foram abertas, é interessante a diversidade de olhares recebidos. Alguns posicionamentos unânimes, outros peculiares que enriqueceram tudo aquilo que vinha sendo pensando.

Foi mais uma afirmação da importância da troca, da reflexão em grupo, da possibilidade de conhecer e compreender o que os outros estão pensando, como estão agindo.

Optamos em  trazer aqui o parecer dos pais, com respeito à primeira pergunta: Cadê escola que estava aqui?

Os resultados das demais ficarão para serem apresentados em uma outra ciranda.

Então, passo a apresentar as conclusões à respeito da primeira pergunta: Cadê a escola que estava aqui? respondida por pais que têm filhos que frequentam escola, com idade entre 2 e 14 anos.

A maioria dos pais sentiram a suspensão das aulas como um período de férias ampliadas. Depois começaram a pensar que o tempo de quarentena estava mais longo do que eles, a princípio, imaginavam. Em seguida, a tomada de consciência, os levou à encontrar a escola dentro de casa. Foram unânimes em afirmar que foi muito difícil o acúmulo de funções. Atender às necessidades das crianças e tudo o que precisava ser feito, não foi fácil. Viveram uma grande tormenta até construírem a adaptação que ainda está em processo.

Os pais que têm filhos em idade de educação infantil, se adaptaram com mais facilidade em ter as crianças em casa, em tempo integral. Para eles, a preocupação com questões acadêmicas está menor. As maiores dificuldades foram sentidas em função do acúmulo de tarefas, sendo essas: as do cotidiano, as das crianças, as da educação sistematizada (que estaria a cargo da escola) e as do trabalho remoto.

Mesmo os pais que não trabalhavam, falaram do cansaço para atender as necessidades das crianças que, antes da quarentena eram supridas pela escola. Foram buscar formas de tornar estas atividades realizáveis, somadas a  todo o restante.  Precisaram deixar de lado os projetos individuais e do casal. Perceberam a necessidade de estarem muito mais conectados às crianças.

Os pais de crianças maiores, viram a necessidade de se adaptarem às plataformas das vídeo-aulas, ensinarem seus filhos a se comportarem e a lidarem com ela. Precisaram estar mais perto para trabalhar as questões de autonomia, o compromisso e a responsabilidade delas para cumprir as tarefas, em especial, estarem mais próximos aos adolescentes que fecham as câmeras do computador e se desmotivam com frequência.

Uma mãe enfatizou a importância de poder assistir a uma aula com sua filha adolescente, pois a mãe, em sua idade escolar, não valorizou o estudo. Disse que gostou muito e, que assistindo a aula da filha, constatou a importância de motivá-la a continuar estudando, e quem sabe, até ela possa voltar aos bancos da escola.

Muitos pais se colocaram no lugar dos professores e imaginavam como para eles deveria estar sendo difícil descobrir formas para cumprir essas novas tarefas.

Disseram que esta experiência os aproximou mais da escola, dos professores e dos filhos. Alguns sentiram a necessidade de serem mais ouvidos, outros se sentiram acolhidos pela escola e estão mais próximos do processo de aprendizagem dos filhos.

Alguns trouxeram a preocupação com um possível aumento da desigualdade entre a educação nas escolas públicas e nas escolas privadas.

Acreditam que as atividades on-line vieram para ficar.

Foram unânimes em expressar o medo, a falta de referência, as incertezas e inseguranças geradas por esse momento.

Quase todos estavam muito preocupados em sedimentar os aspectos que não abrem mão para a escola de seus filhos.

Percebem a escola como um espaço de convívio, de exercício da cidadania, de troca entre: professores, outros adultos participantes da escola e os alunos.

Foram unânimes em afirmar que a falta do convívio, da experiência presencial foi a grande perda.

Acreditam que cada vez mais os conteúdos deveriam ser vistos como meios para viver a coletividade.

Desejam que seus filhos aprendam a usar a informação, a fazer críticas e direcioná-las para um fazer produtivo em prol de todos.

E, para finalizar, gostaria de concluir com duas perguntas: Como construir a integração entre todos esses aspectos que foram surgindo no decorrer desta vivência em relação à escola? Quais as ferramentas a serem usadas pela escola, para acolher e ser acolhida por estes pais que, com esta experiência oportunizada por ela, passam a se perceber, cada vez mais, como parte e agentes do processo educativo de seus filhos.

FAMÍLIAS E APRENDIZAGENS (por Vera Lucia Germano Sicuro)

Nestes tempos de pandemia tenho atendido, como terapeuta familiar, muitas famílias com filhos em fase escolar, de idades cronológicas diversas (da educação infantil à universidade) e que têm enfrentado as questões relativas à escolarização de maneiras muito distintas. Tenho encontrado pais que perceberam seus filhos muito mais motivados e autônomos do que poderiam imaginar para lidar com as aulas on-line e as tarefas propostas,  enquanto outros não sabem o que fazer para que os seus filhos assistam as aulas e cumpram o mínimo necessário… Alguns dizem que “entregaram os pontos”, outros tomam para si a responsabilidade dos filhos… Uns estão muito preocupados com o conteúdo programático, enquanto outros acreditam que os filhos terão a vida toda para recuperar este aspecto e, que agora precisam aproveitar este período de intensa convivência para ensinar/aprender outras coisas. 

Alguns pais estão com mais disponibilidade emocional e de tempo e outros, estão sobrecarregados com suas tarefas profissionais, de organização e manutenção doméstica. Têm aqueles que estão tranquilos com as suas escolhas e outros que estão enfrentando grande sofrimento. Enfim, eu passaria muito tempo descrevendo as várias formas como as famílias que acompanho, estão se organizando emocional e funcionalmente para enfrentar este período, por isso escolhi duas, que particularmente, chamaram minha atenção.

A primeira é composta por cinco elementos: pai, mãe e três filhos (uma menina de dez anos, outra de sete e, um menino de dois). Nesta família, os pais tomaram para si a tarefa de motivar ou convencer os filhos a assistirem as aulas on-line (diariamente, no período da manhã e da tarde) e realizarem todas as tarefas, que não são poucas, solicitadas pela escola.

Os pais também corrigem todas as tarefas escolares dos filhos para que eles “aprendam direito” os conteúdos. As crianças têm muito pouco tempo livre, o que os pais acham ótimo, pois, ambos têm muitas tarefas profissionais, de organização da casa, e ainda o caçula, que não está na escola, para atender.

Quando questionei sobre a convivência familiar: o lazer conjunto; as aprendizagens sobre as tarefas de organização e manutenção da casa e, sobre a cooperação das crianças neste processo; o aprender a lidar com o ócio ou redescobrir jogos e brinquedos esquecidos em algum canto da casa, estes pais me disseram não ter tempo a perder com isso, que a vida familiar virou “um inferno”. E, que se não forem os professores de seus filhos, estes perderão o ano letivo, o que seria um desastre para a vida futura. Apesar de acreditarem estar cumprindo com a expectativa da escola, estão muito angustiados, com um sentimento de impotência e incompetência porque não tem a metodologia adequada para motivar ou ensinar os filhos, nem para corrigir suas tarefas: ora dizem que tem erro e deixam as crianças, ora dizem de forma impaciente e irritada a resposta correta…

A outra família tem apenas uma filha de seis anos de idade que está aprendendo letra cursiva. Sua escola pede que os pais acompanhem para o acesso à plataforma para as aulas on-line e, às vezes, ajudem os filhos em algumas tarefas, sendo que muitas envolvem a família toda, num jogo, numa colagem, conversa ou na confecção de alguma receita culinária.

Nesta segunda família, o atendimento que faço é para o casal. A menina sabe e sempre respeita o horário de terapia dos pais. Mas, outro dia, ela entrou no escritório onde os pais ficam para o atendimento, se colocou na frente da tela do computador e me falou:

Oi! Minha mãe me disse que você faz um trabalho muito importante, que você ajuda eles a aprender muita coisa, para eles fazerem as coisas certas e a gente ser mais feliz. Então eu preciso que você me ajude, que ensine para minha mãe que quem está na escola sou eu, que as tarefas da escola são minhas, e que como eu estou aprendendo, eu posso errar.

Quando perguntei o que havia acontecido, ela contou que a professora tinha dado uma tarefa de dobradura meio difícil e ela pediu uma orientação à mãe, que não aguentou e fez a dobradura toda pela filha e ainda terminou dizendo: pronto! A menina terminou seu diálogo comigo, dizendo:

Eu sei que você vai conseguir me ajudar porque minha mãe escuta você. Obrigada!

Virou-se de costas, saiu da sala e fechou a porta….

Acredito que pensar e conversar sobre a postura destas duas famílias nas suas relações com a concepção, expectativa e comportamento em relação ao processo de aprendizagem de seus filhos nos renderá um rico cirandar.

PROFESSOR E ALUNO – PAR EDUCATIVO (por Simone Carlberg)

Por curiosidade, pesquisei o tema da Ciranda na Internet e encontrei o livro de Cesar Cardoso, com o mesmo título: Cadê a escola que estava aqui? Uma história narrada em prosa poética. Encontrei também uma professora, no Yotube lendo a história. Seu vídeo foi gravado no dia 10 de agosto deste ano. Fiquei imaginando o que motivou a gravação. Ela tem 29 inscritos no seu canal que, até o dia da Ciranda,  teve 40 visualizações.

Embora a história tenha sido publicada em 2017, podemos ler e interpretar a narrativa inicial para o momento de afastamento social. Citarei uma parte:

“Mas não é que hoje cedo,

Minha mãe me deu adeus,

Eu dobrei a mesma equina…

Mas a escola não apareceu?

Caramba, cadê a escola?

Sumiu! Evaporou!

Em vez dela só uma nuvem.

E agora? Pra onde eu vou?

(eu, que até desconfio,

nem sei mais onde estou.)

Quieto, fechei os olhos,

Fiquei sem nem me mexer.

Quem sabe, quando eu abrir,

a escola vai aparecer?

(E eu já sem ver mais nada,

torço pra isso acontecer.)

É um, é dois, é três!

Abro os olhos… puxa vida!

A minha escola, inteirinha, continuava sumida.”

Cesar Cardoso e Lucia Brandão (ilustradora)

2017 – Editora Gaivota

Para o convite da Ciranda selecionamos algumas palavras disparadoras para reflexões, como já foi dito e, todas elas podem ser pensadas em relação a um dos importantes pares do processo educativo – os professores e os alunos.

Compreendemos que o conjunto de professores (incluindo aqui Pedagogos e demais integrantes das equipes pedagógicas) bem como, o conjunto de alunos vivem (vivemos) um tempo intenso na condição de aprendizes. Algo tem sido comum: as aprendizagens sobre o ambiente educativo virtual e a perspectiva de mistura (ou não) entre o âmbito privado e o público.

Temos acompanhado resultados de pesquisas, como também, assistido a vídeos e lives que enfatizam diferentes momentos dos quase 6 meses de afastamento social. Se por um lado, a saudade do ambiente escolar, nos emociona, por outro nos preocupa a condição de excesso de atividades on-line, tanto para os professores quanto para as crianças e jovens.

Há pesquisas que apontam resultados de sobrecarga, cansaço e estresse nos professores, somada à preocupação com o retorno das aulas presenciais e suas consequências.

Juntos conjugamos diariamente o verbo aprender – eu aprendo, tu aprendes, nós aprendemos.

O propósito desta Ciranda é justamente dividirmos nossas aprendizagens, dificuldades, preocupações com a escola que estamos construindo em meio à nevoa de incertezas que paira sobre todos nós.

E A NATUREZA? (por Arlete Zagonel Serafini)

Pensando no nome desta primeira ciranda virtual, “Cadê a escola que estava aqui?”, quero falar um pouco da natureza, porque nós somos natureza. As pessoas estão sentindo falta da natureza; não sabem nem nomear a sensação de tranquilidade que é estar ao ar livre.

Na Inglaterra, médicos têm prescrito a natureza como “remédio” para a cura de alguns males, assim, muitas doenças podem ser evitadas. O brasileiro, Dr. Daniel Becker, já vinha falando de um diagnóstico de “déficit de natureza” para as crianças que o procuravam. A natureza é um lugar de bem estar e, também, de construção do conhecimento. 

Muitas escolas, neste momento de isolamento social, têm procurado analisar como são os seus espaços naturais e quais seriam as necessidades de fazerem, cada vez mais, parte de seus processos educativos. Estão idealizando transformações desses espaços, do ambiente educativo que até então vinham adotando, porque podem trazer novas formas de construção da aprendizagem. Já há muitos estudos sobre o reconhecimento da importância de estar ao ar livre para o desenvolvimento dos seus alunos, ou melhor, para os seus alunos “se envolverem” com o seu aprender.

O espaço acolhe e proporciona contato = com tato. Muitas vezes, as árvores são trabalhadas nos livros e, no entanto, elas estão ali fora para serem vistas, tocadas, analisadas… De forma autêntica, as pessoas vão aprendendo, se entregam por inteiro, como também, criam, brincam, investigam, refletem, riem, interagem, criam vínculos e respeito à diversidade, desenvolvem autonomia/ontonomia, pertencimento… Sendo assim, o espaço externo das escolas que estavam aqui, passam a ter um grande valor no aprender de seus alunos e uma riqueza para o planejamento dos professores. 

Inúmeras escolas já vinham alongando seus espaços internos para o externo, como uma extensão um do outro.  Elas fazem parte do ecossistema integrado das cidades que também são territórios do aprender, sendo que, qualquer espaço verde próximo da escola, já é um começo para a sua inserção, principalmente quando o espaço da escola não permite grande ampliação. Muitas escolas ficavam entre seus muros. Transpor esses muros e interagir com os espaços urbanos, só vem agregar.

Muitas cidades estão repensando seus espaços de convivência: ruas, praças, parques… porque são necessidades urgentes da sociedade, do ser humano. É a escola abraçando o espaço urbano. Isto vem ser um incentivo ao professor para, ao ar livre, no espaço da natureza, criar estratégias, processos de pesquisas, reflexões de forma autêntica e, assim, os alunos vão construindo suas aprendizagens.         

A escola que estava aqui, observa o que seus alunos desejam, o que fazem, como fazem, onde colocam suas atenções, concentrações… acreditando que o principal produto é o processo, porque é o processo que se leva para si.

A escola que estava aqui, vai caminhando, construindo o seu processo de mudança com diálogo entre: escola, alunos, familiares e sociedade, para “re-encantar” o futuro. 

Acredito que uma vida rica em natureza, vai transformar a sociedade.           

Neste momento de isolamento social, podemos levantar estas questões:

  • Como a escola, hoje, pode ajudar seus alunos a não perderem contato com a natureza?
  •  A refletirem sobre a importância dos cuidados com ela?
  • A pesquisarem sobre as ações necessárias para mantermos a qualidade de vida em nosso planeta?
  • Como relacionar o espaço natural ao espaço virtual objetivando os conhecimentos necessários neste momento histórico?
  • O que é preciso fazer para que ampliemos a compreensão de que somos natureza e de que fazemos parte de uma rede conectada, na qual o descuido com o ambiente é também o descuido conosco mesmos?

COM A PALAVRA OS “CIRANDEIROS”

Após a apresentação dos tópicos a coordenadora da discussão da Ciranda de Educadores apresentou a seguinte consigna para os educadores presentes de várias localidades do Brasil:

Vamos pensar que formamos uma grande roda e, que a partir do que foi dito e do que vocês pensaram e sentiram poderemos iniciar esta Ciranda para responder à pergunta que nos trouxe aqui: Cadê a escola que estava aqui? E quais as renovações e inovações caberão aqui, agora e futuramente?

A discussão iniciou, abordando-se as dificuldades e os desafios do momento. A sobrecarga e o tempo de exposição às telas. E alguém diz: A escola continua aqui… Enquanto não mudarmos as cabeças a escola continuará aqui. Por exemplo, as crianças, adolescentes e pais só se mobilizaram no momento em que se falou de avaliação, de notas… Então, as postagens começaram a ser feitas.

Sabe-se que a aprendizagem se faz diante das necessidades e talvez seja importante pensarmos do que necessitamos, neste momento, para que a motivação da aprendizagem não seja pautada pelo controle externo e sim pelo envolvimento, pelo desejo de construirmos a escola deste momento e daquele que está por vir.

Não é a presença do vírus e o uso da tecnologia que mudará a forma de pensar a aprendizagem. Emília Ferreiro falou em uma de suas palestras – “Mudar para não mudar” e parece que é isso que está acontecendo.

O que precisa ser colocado no lugar desta escola, certamente é um ensino híbrido que seja regido por projetos e que tenha uma forma de aprendizagem, também, no espaço virtual. Uma escola que aprenda a utilizar as metodologias ativas, que tenha um currículo flexível para atender às necessidades humanas. Propor um conteúdo mais vivenciado.

Enquanto não é possível a ida para o espaço da escola é preciso aprender o uso das plataformas e levar a escola para dentro das casas de forma mais dinâmica, menos estressante. Nós professores precisamos aprender a lidar com as possibilidades da tecnologia, não tínhamos este conhecimento e ainda temos muito a aprender. De nada adianta querer dar continuidade à forma de ensinar e aprender vivida anteriormente, aplicando-a ao espaço virtual. Não é momento de se preocupar com a quantidade de conteúdo e sim com o conhecimento do qual necessitamos neste momento.

Aprendemos muito neste tempo e uma das aprendizagens é a de que adultos dependem do conhecimento dos jovens, enquanto os jovens precisam do conhecimento do adulto, é uma relação saudável de dependência. É a interdependência, na qual, ensinar e aprender se dá nas relações assimétricas.

O trabalho remoto precisa acontecer com os alunos, os pais, enfim, com as famílias. Todos estamos aprendendo e um texto importante trabalhado em uma das escolas do interior do Paraná foi um texto sobre a paciência escrito pela Psicóloga Virgínia Alice de Oliveira, da Síntese – Centro de Estudos da Aprendizagem. A escola é responsável por transformar o desinteresse em interesse e a aula invertida, as metodologias ativas, a operatividade são agora ferramentas importantes para que aconteça a mudança. Transformar o ensino em virtual, tão somente, não garante a autoria e a participação ativa dos aprendizes.

A escola que buscamos não é ainda a escola que está aqui. Ela está em construção. Será este o momento de sobrevivência ou o momento de reconstrução? A visão sistêmica nos ensina que o desenvolvimento se dá com movimentos de focar e ampliar numa sequência, muitas vezes, quase que imperceptível, e isto não nos permite dizer primeiro isto, depois aquilo… As coisas vão acontecendo em uma série de conexões e sendo construídas ao mesmo tempo. Estamos todos no mesmo barco! Será? Ou estamos todos no mesmo mar, mas nem todos no mesmo barco. Cada barco lidará com as intempéries e com a maré mansa, à sua moda; e o compartilhamento destas rotas e formas de conduzir produzirão o futuro que ainda não conseguimos vislumbrar.

A vivência da Ciranda, certamente, possibilitará reflexões importantes!

A “presença permitiu cirandar, experenciar, criar vínculos no movimento gratificante das boas conversas,do afeto,da sensibilidade, da auto educação e do compartilhamento. Olhar, ressignificar, fazer reflexão, enfim, remar neste mar possibilita (re)pensar um recomeço,a mudança,a transformação, a reconstrução, a renovação, a reaprendizagem, as re… Depende de nós! Luz, paz e gratidão.

E assim a Ciranda de Educadores cirandou, pela primeira vez, virtualmente no dia 02 de setembro de 2020!

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